segunda-feira, 27 de junho de 2011

O espaço do cenário na imagem televisiva


CARDOSO, João Bastista Freitas. Cenário televisivo: linguagens múltiplas fragmentadas. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2009.

Cenografia é a arte/técnica de projetar e executar a instalação de cenários para apresentações teatrais, programas de tv, shows etc. É parte importante do espetáculo, pois conta a época em que se passa a história, e conta o local em que se passa a história; pelo cenário podemos identificar a personalidade dos personagens. Alguns autores confundem com um segmento da arquitetura. Entretanto, a arquitetura cênica ou arquitetura cenográfica se ocupa mais especificamente da geração dos cenários arquitetônicos internos ou externos.

Para os gregos antigos, a cenografia era a arte de adornar o teatro e a decoração de pintura que resulta desta técnica. Para o Renascimento, a cenografia foi a técnica que consistia em desenhar e pintar uma tela de fundo em perspectiva. Já no sentido moderno, é a ciência e a arte da organização do palco e do espaço teatral. A palavra se impõe cada vez mais em lugar de decoração, para ultrapassar a noção de ornamentação e de embalagem que ainda se prende, muitas vezes, à concepção obsoleta do teatro como decoração.

Cenografia na televisão

Muitas e variadas são as relações entre a linguagem da televisão e seu referente imediato, a língua da comunidade. Quando nos referirmos à linguagem da televisão, estamos fazendo alusão ao estilo de comunicação verbal empregado por esse veículo de comunicação de massa, da mesma forma como costumamos falar em linguagem dos jornais ou do rádio, por exemplo. "A televisão, em sua natureza, é composta por uma série de linguagens - apresentações musicais, dramaturgia, esporte, jornalismo, dentre outras" (CARDOSO, 2009: 63).

Um cenário é composto de elementos físicos e/ou virtuais que definem o espaço cênico, bem como todos os objetos no seu interior. Com base no perfil psicológico e econômico determinados na sinopse o espaço ganha vida com suas cores, texturas, estilos, mobiliário e pequenos objetos, todos com a finalidade de caracterizar a personagem criando ou recriando seu habitat.

A cenografia é uma arte difícil, que responde tanto à sensibilidade do criador, quanto às normas que regem todo o processo de criação artística. Neste sentido, "Cenário Televisivo - Linguagens Múltiplas Fragmentadas" serve de guia aos estudantes, na tarefa de traçar o caminho para superar seus mestres. Esta publicação é sem dúvida uma obra de referência para todos aqueles que se dedicam ou se interessam pelo estudo desta arte.

A principal questão a ser discutida na primeira parte de Capítulo III (O espaço do cenário na imagem televisiva) da obra de CARDOSO é: independentemente das especificidades de cada gênero, de que forma as tipologias influenciam a configuração do espaço de encenação? Em seguida será observado o papel do cenário na encenação e as qualidades do quadro videográfico que afetam diretamente o fazer cenográfico.

1.O cenário no espaço/tempo

Ao programas de vídeo, entre eles os televisivos, são construídos por uma sucessão ordenada de fragmentos de tempo e espaço que pouco tem a ver com o espaço e tempo real. Segundo Garcia Jimenez (apud BALOGH) o espaço na representação audiovisual nesse caso na televisão configura-se com base em certas dicotomias, como interior/exterior, natural/artificial, urbano/rural, entre outras.

A definição do estilo do cenário se deve à:

(1) Disposição dos elementos arquitetônicos e cenográficos fundo neutro, desenho, fotografia, etc.

(2) Escolha de cores tons quentes e frios, harmonia e contraste, predominância de cores, etc.

(3) Aplicação das luzes disposição, direção, etc.

(4) Características das superfícies materiais utilizados, relação com fontes luminosas, texturas, etc.

No trabalho de Orza, também é possível encontrar a tipologia e a topologia associadas diretamente à construção do texto televisivo. Baseando-se na dicotomia realidade/ficção, Orza (2002: 137-188) indica três possíveis tipos de espaços de representação na televisão em que se pode observar as relações estabelecidas entre tipologias e topologias:

(1)Discurso Referencial/Espaço real programas de telejornalismo

(2)Discurso Ficcional/ Espaço Reais representados programas de ficção

(3)Discurso de hibridização/ espaços fingidos (possíveis ou imaginados) encontram-se os programas que operam entre os limites da realidade e da ficção.

Partindo dessa conceituação, os conceitos de espaços reais, espaços reais representados e espaços fingidos remetam a espaço que tem como referencias uma realidade externa, uma interna e as duas simultaneamente.

Em topologias especificas, a divisão espacial de Orza presta auxílio ao indicar uma forma de categorização dos distintos tipos de representações cenográficas que são encontradas na televisão:

(1)Espaços naturais

(2)Espaços naturais representados: cenários construídos com materiais corpóreos ou produzidos por meio de modelagem digital.

(3)Espaços imaginários - ambientes fantasiosos estão presentes em programas de auditório, infantis, documentários, telejornais, etc.

Para finalizar, ainda em relação tipologia/topologia seja evitado aqui estabelecer limites para o cenário, não há como negar que em qualquer uma das representações apresentadas, o cenário tem um papel a cumprir e esse papel pode ser bem compreendido com base nos conceitos de figura e fundo difundidos pelos estudos da gestalt.

2.O cenário como fundo

O cenário deve ter consciência de que não está li para ser a principal atração. O que há são relações de linguagens estabelecidas entre o cenário e outros símbolos visuais os atores, os figurinos, os adereços, a iluminação, etc. verbais na oralidade dos atores/ apresentadores ou nas legendas videográficas e sonoros músicas, trilhas sonoras, efeito, fala, etc. Existe, em cada cena, uma inter-relação sígnica sem o estabelecimento de uma hierarquia.

O cenário deve ser pensado como um elemento cujo principal objetivo consiste em valorizar os gestos, movimentos e a fala do profissional do vídeo. O cenário deve na maior parte das vezes, assumir a posição de fundo de cena.

Cada cena, reduzida ao seu menor fragmento, resume-se a um quadro, uma foto videográfica (frame). A organização de quadros videograficos apresenta-se no suporte televisual por meio de planos. O plano é de certo modo. A menor unidade de significação em um programa, a unidade mínima em que se pode fragmentar uma narrativa. A significação do plano está condicionada tanto aos planos que o precedem como aos que se seguem.

Apesar de algumas diferenças de terminologias empregadas no mercado, existe no Brasil os seguintes planos:

(1)Grande Plano Geral (GPG) o cenário predomina sobre os profissionais de vídeo.

(2)Plano Geral (PG) o enquadramento não somente enquadra a personagem completa, mas também o espaço de ação.

(3)Plano Conjunto (PC) predomina aí o profissional de vídeo e o cenário começa a assumir papel de pano de fundo.

(4)Plano Americano (PA) o cenário, que nos planos anteriores ocupava parte da atenção, começa a sair de cena.

(5)Plano Médio (PM) é um dos planos mais utilizados na televisão. O cenário, neste plano, se resume a fragmentos indiciadores de um espaço.

(6)Primeiro Plano (PP) o rosto ocupa a maior parte do quadro, a cenografia se resume a luz, maquiagem, adereços, etc.

(7)Primeiríssimo Plano (PPP) a imagem se resume aos detalhes da expressão do ator.

(8)Plano Detalhe (PD) plano fechado que normalmente apresenta pequenos objetos ou detalhes do cenário.

A imagem televisual, como representação bidimensional, apresenta-se na sua forma mais elementar pela relação figura-fundo (ARNHER, 2005, P.218). A figura, em sua forma limitada, encontra-se em frente a um fundo, que sua forma ilimitada confinada por uma borda.

Segundo Arnher, Edgar Rubin descobriu que a limitada circundada tende a ser vista como figura, a circundante, ilimitada, como fundo (2005, p.219). Outro aspecto que, para Rubin (apud ARNHER,2005, P.221), leva a percepção a considerar duas formas como uma figura e outra fundo é a divisão do espaço em topologias horizontais.

3.Os elementos de configuração do cenário

No processo de criação do cenário, e também na elaboração do projeto de construção, a experiência teatral mostra a cenografia televisiva ser fundamental que, em primeiro momento, o cenógrafo compreenda a atmosfera que a direção pretende imprimir ao programa. De modo geral, a criação deve iniciar o processo a partir da leitura da sinopse e das informações passadas pela direção sobre o que ela deseja em termos visuais.

Um cenário é harmonioso quando todos os elementos visuais atuam no mesmo sentido, sendo cada um deles fundamental ao todo. O cenógrafo, neste sentido, deve considerar o cenário a partir de uma função provocatória, tanto no sentido do gesto como na significação de suas falas.

O que deve interessar ao cenógrafo são as mensagens contidas no texto, definidas na leitura da sinopse e/ou roteiro e nas reuniões com diretor e elenco, e o impacto deseja para a encenação. O impacto que o cenário causa visualmente é mais importante do que a forma como ele é produzido ou os materiais com que é confeccionado. O impacto visual é normalmente determinado em um esboço que deve traduzir plasticamente o conceito do cenário, transmitindo visualmente o conteúdo e a atmosfera geral do programa.

É importante ter em mente que o espaço cênico apresentado em um plano conjunto, mostrando todos os elementos de composição da cena, como em diversos planos mais fechados.

É preciso que o cenógrafo e seus assistentes tenham habilidade para visualizar escalas e peças tridimensionais, habilidade e conhecimento de técnicas de perspectivas, conhecimento de elaboração das plantas, das elevações, dos detalhes e de outras especificidades de projeto, tenham conhecimento de materiais suas texturas, resistências, efeitos. e também conhecimento geral da cenotécnica, para que seja possível controlar o processo ate a fase de instalação.

A escolha dos materiais para confecção de peças será determinada no detalhamento técnico do projeto e no estudo deste com a cenotécnica, e será definida com base nos seguintes critérios: impacto que se deseja causar na cena, espaço onde o cenário será instalado e forma como o cenário será instalado. As dificuldades financeiras exigem criatividade do cenógrafo, com a utilização de materiais alternativos.

A estrutura do cenário é composta por um conjunto de peças, muitas vezes modulares, que ocupam todas as dimensões do espaço cênico. Na televisão, os painéis que servem para a composição do cenário de diferentes formatos e cores são conhecidas como tapadeiras. Outros termos comumente associados às tapadeiras são: bastidor e trainel. O bastidor é basicamente um chassi de madeira, sobre o qual se entela um pano, colocado nas partes laterais do palco.

O praticável, outro tipo de peça muito comum no espaço cênico, é basicamente uma plataforma, usualmente de madeira, com tampo firme, usado nas composições dos níveis de piso dos cenários.

4.A tela videográfica

A representação videografica constitui-se, na realidade, de uma imagem iridescente, composta, simplesmente, por pontos de luz (pixels) vermelhos, verdes e azuis que se distribuem na tela compondo o quadro videografico.

Outro aspecto que deve ser considerado na imagem videografica diz respeito à dimensão.

A dimensão existe no mundo real. Não só podemos senti-la, mas também vê-la, com o auxilio de nossa visão estereótica e binocular. Mas em nenhuma das representações bidimensionais da realidade, como o desenho, a pintura, a fotografia, o cinema e a televisão, existe uma dimensão real; ela é apenas implícita (DONDI, 2003: 73).

A representação de um espaço tridimensional como no espaço cenográfico em uma imagem bidimensional como a imagem videográfica depende da visão.

Tratando especificamente das imagens tridimensionais, Aenheim afirma: os objetos podem participar da terceira dimensão de dois modos: afastando-se por inclinação do plano frontal e adquirindo volume ou rotundidande (2005:247). Esses modos de obter o efeito de tridimensionalidade, na superfície plana, são possíveis por meio de algumas técnicas, então: a perspectiva de campo, os contrastes de escalas, as variações tonais de claros e escuros e os efeitos de luzes e sombra.

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